Entrevista com Marisa Orth sobre a peça "O que o mordomo viu"

15-02-2014 19:50

Marisa Orth é a atriz principal da comédia O que o mordomo viu. O texto é do dramaturgo inglês Joe Orton (1933-1967), com adaptação e direção de Miguel Falabella, e discute temas contemporâneos sob a roupagem do vaudeville tradicional. Após entrar no elenco em substituição a Arlete Salles, Marisa defende a personagem Denise Barcca, secretária atraente que vira a cabeça do psiquiatra Arnaldo, interpretado por Falabella. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, a atriz fala sobre seu trabalho com o texto, sua parceria com Miguel Falabella e o momento atual do humor brasileiro.

A peça tinha, inicialmente, Arlete Salles no elenco, mas ela teve de se afastar por motivos de saúde.. Como foi sua aproximação com o texto?
Foi uma experiência nova. Gosto muito da Arlete, do Miguel, entrei no elenco da peça por amor a eles. Uma coisa é você se ausentar porque está doente, outra coisa é saber que, com sua ausência, muita gente vai ficar no prejuízo, pois a estreia da peça já estava próxima. Quando Arlete melhorar, a peça vai ficar com duas versões: comigo e com ela.

Em sua opinião, o que esse texto tem de único?
O fantástico é que ele une duas coisas muito opostas: um formato tradicional de vaudeville com uma temática "punk". Ao ver a peça, você fica pensando se as pessoas estão loucas ou sãs. Joe Orton era um dramaturgo extremamente moderno e também foi um paciente psiquiátrico, então o texto traz piadas muito inteligentes sobre o conceito de normalidade na sociedade ocidental. Ao mesmo tempo, esta é uma peça muito tradicional na Inglaterra, com uma estrutura leve. Os personagens viram mulher, viram homem, eles sempre estão tentando esconder algo de suas personalidades. É uma comédia rápida, com piada atrás de piada. A gente tem que esperar a risada do público terminar para continuar o texto. em que esperar o publico se acalmar.

Quais são as características da sua personagem?
Denise Barcca é uma doidivanas. Antes mesmo de entrar em cena, é definida pelo marido como alcoólatra e ninfomaníaca. Caça rapazes como quem caça o Santo Graal. Ela é bem animada, mas os personagens da peça também não valem nada [risos].

Você tem uma trajetória sólida na comédia, embora também faça papeis dramáticos. O que te fascina mais no cômico?
É o ritmo. Comédia é esgrima, é pingue-pongue. A peça tem que funcionar como um relógio e as piadas precisam ter ritmo. É um treino que preza pela exatidão. Se você errar o tempo da piada, perde a graça. É um jogo, brincamos de quem acerta mais.

Esta é mais uma parceria sua com o Miguel Falabella. Como vocês costumam trabalhar juntos, trocar ideias?
Eu e Miguel trabalhamos juntos durante nove anos na televisão, seis deles no Sai de Baixo e mais três no Toma Lá Dá Cá. Além disso, fizemos, nos anos 90, uma peça chamada Algemas de ódio. Somos amigos pessoais e temos muita sintonia, conseguimos nos entender mesmo sem palavras.

Como você vê o momento atual do humor brasileiro? Você acompanha os humoristas que apareceram nos últimos 10 anos?
Mais ou menos, mas gosto desse novo panorama do humor nacional. Quando comecei a fazer teatro, havia muito mais preconceito com a comédia. Hoje, fazer humor é chique e uma boa parcela da juventude acha a comédia mais nobre que o drama. Eu o acho um indicador de cultura, um instrumento com o qual você também pode falar de emoções. Não precisa ser só chanchada ou apelar para o mais fácil.

Além da peça, em que outras frentes você vai trabalhar em 2014?
No fim de março, devo gravar um programa no Canal Brasil, com direção de Tatiana Issa e Guto Barra, chamado provisoriamente de Almanaque Musical com Marisa Orth. Vou ser uma espécie de mestre-de-cerimônias e conversar com muita gente do Brasil inteiro, incluindo músicos pernambucanos. No segundo semestre, vou circular com o meu show musical, chamado Romance volume 3 - agora vai!. Um curta-metragem com o diretor Daniel Tupinambá também está nos planos.

Fonte:https://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2014/02/13/internas_viver,489294/marisa-orth-volta-a-comedia-na-peca-em-o-que-o-mordomo-viu-em.shtml